Ir para o conteúdo principal

Biblioteca Municipal assinalou Dia Mundial do Braille com convidado especial

04 janeiro, 2012

Biblioteca Municipal assinalou Dia Mundial do Braille com convidado especial
A Biblioteca Municipal recebeu hoje, dia 4, um convidado especial para assinalar o Dia Mundial do Braille. Alfredo Santos é funcionário da Câmara Municipal, tem 50 anos e nasceu invisual. Aprendeu a ler Braille com seis anos num colégio em Lisboa e aceitou, prontamente, o convite da Biblioteca para explicar a duas turmas do 4° ano da EB1 da Mealhada como se processa a chamada “leitura dos cegos” criada por Louis Braille. Falou da sua vida pessoal e profissional, do seu quotidiano, dos seus gostos e hobbies, leu excertos da obra “O Livro Negro das Cores” em Braille e respondeu a dúvidas e curiosidades colocadas pelas crianças ao longo da manhã.

Desde a maneira como reconhece as pessoas, à forma como combina as cores da roupa que veste ou até como distingue o dinheiro, Alfredo Santos esteve à altura para responder a todas as interrogações, mesmo às mais inesperadas e, ainda, quebrou alguns mitos. Se há quem pense que os cegos “conhecem tudo mesmo sem ver”, por supostamente terem os sentidos mais apurados, desengane-se. De acordo com o funcionário da Câmara isso “não é verdade”. Este afirma que não se conhece uma pessoa sÓ pela forma de andar, pelo toque, ou pela voz. Segundo Alfredo Santos, invisual desde que nasceu, obviamente “existem dificuldades”. Claro está que, apÓs algum convívio, essa capacidade se aprimora. “Decoro por conviver” – afirma –, e diz que se habitua, por exemplo, à “sonoridade da voz”.

O convidado escolhido pela Biblioteca para assinalar o Dia Mundial do Braille garante que o facto de nunca ter visto “não custa nada” e que se habituou a “viver sem ver”, adaptando-se facilmente. “é uma questão de ambiente”, conta. De acordo com Alfredo Santos, o “segredo” está no ajustamento ao meio onde se está integrado. “é o ambiente em que vivemos que nos faz ser mais desenvolvidos e perspicazes”, diz. O funcionário da autarquia que vive na Mealhada desde os 14 anos de idade afirma que, a nível de integração, se sente realizado. “Sinto-me integrado e gosto muito da minha terra!”, frisa.

Telefonista de profissão, gosta de comunicar e, apesar de gostar de “sentir o cheiro do mar e da natureza”, de fazer associações através do olfacto e de não se preocupar muito com “o subjectivo” e com “o visível”, adora estar perto de quem lhe explique o mundo que o envolve. Assim, mesmo levando uma vida normal e encarando a sua condição com naturalidade, não deixa de se rodear de “pessoas que vêem”.

Alfredo Santos que aprendeu a “ler com os dedos” terminou a sua retÓrica com ousadia: “Antes quero não ver, do que não ter um dedo. Quero os meus dedos, falar, andar…” e diz bem resolvido: “Nasci sem ver. Nada de drama, nada de tristeza!”. O convidado que demonstra reger-se pela aceitação e pelo amor-prÓprio, fez questão de deixar uma lição de vida aos mais novos: “Tentem gostar de vÓs prÓprios primeiro. Assim é mais fácil gostar dos outros”.

Alfredo Santos demonstrou técnica de leitura Braille e leu trechos da obra “O livro Negro das Cores”

Segundo Tomás, o menino invisual que protagoniza a obra “O livro Negro das Cores”, de Menena Cottin e Rosana Faria, “o amarelo sabe a mostarda, mas é macio como as penas dos pintainhos”, “o vermelho é ácido como o morango e doce como uma melancia”, “o castanho está debaixo dos seus pés quando as folhas estão secas”. Referências que Alfredo Santos leu em Braille e que cativaram as crianças, que se mostraram entusiasmadas e atentas durante toda a explanação.

A manhã na Biblioteca assinalou o Dia Mundial do Braille e serviu para os mais novos aprenderem sobre o sistema de leitura por pontos de alto relevo, capazes de serem distinguidos pelo tacto. Aprendizagem feita de forma alegre e descontraída, sustentada pela boa-disposição e simpatia do convidado e pela leitura de um livro que convida a reflectir sobre “como será aquilo que nos rodeia para quem não vê”.

O criador do sistema de leitura pelo tacto, Louis Braille, pensou neste método, em 1827, por considerar que existiam inúmeras coisas que não podia ouvir nem sentir e estava convencido de que “somente os livros podem libertar os cegos”.

(2012-01-04) - Press Release






Notícias Relacionadas